Até agora o filme que mais gostei no festival. Gostei do registo quase antropológico e o argumento está muito bem estruturado no objectivo de demonstrar a criação de um santo, numa mistura de rituais pagãos e cristãos. A última profecia da menina morta é «a palavra é dor». E creio que isto pode resumir aquilo que deu origem a toda a história, a dor. Numa povoação na Amazónia, um miúdo que acaba de perder a mãe (suicídio) encontra o vestido de uma menina morta. Forma-se o mito. A família da menina dá-lhe o estatuto de santo, a menina passa a falar todos os anos pela boca do rapaz, o «Santinho». O rapaz torna-se prisioneiro do mito, mas é também uma forma de aplacar a sua própria relação incestuosa com o pai. O «Santo» ganha cada vez mais importância e no vigésimo aniversário do aparecimento do vestido, o ritual sagrado já é uma festa com patrocínios e show musical. Tanto para o Santo como para o irmão da menina morta, o peso começa a ser demasiado. Um quer acabar com a fanfarra sobre a morte da irmã que dura há 20 anos. O outro não pode perder o que o faz especial, mas ao mesmo tempo o esforço é demasiado. E a festa pagã/cristã, numa terra de gente pouco escolarizada e simples, continua...
17/20
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